Embora vários estudos relatem haver um certo temor de que a amamentação aumente o risco de recorrência ou um novo câncer de mama primário, não existem evidências que corroborem essa preocupação.
• Pensando nas terapias de conservação da mama (lumpectomia e radioterapia), uma revisão sistemática concluiu que as pacientes podem produzir leite, mas o volume é significativamente reduzido na maioria dos casos.
• Tanto a cirurgia quanto a radiação podem afetar a capacidade lactacional. A cirurgia envolvendo a região subareolar pode cortar ductos terminais e obstruir a saída do leite materno. Além disso, incisões periareolares podem afetar a inervação do mamilo e potencialmente afetar o reflexo de ejeção do leite e regulação da produção de leite.
• Há evidências anedóticas de recanalização (formação de novos ductos) e reinervação após cirurgias de mama não oncológicas; no entanto, os efeitos da radiação provavelmente interfiram nesse fenômeno nos casos de câncer. Histopatologicamente, as mamas irradiadas exibem alterações e essas mudanças parecem ser irreversíveis.
• Diminuição da elasticidade do complexo mamilo-areolar e alterações induzidas por radiação na composição do leite, incluindo níveis aumentados de sódio, podem resultar em forte preferência infantil pela mama não afetada.
• História de Mastectomia: não se espera lactação numa mama após mastectomia devido à remoção do parênquima mamário. Mulheres com esse histórico devem ser aconselhadas à amamentação unilateral (mama não afetada), sendo totalmente possível nesses casos uma produção suficiente de leite para o bebê.
• A expressão de leite (manual ou com bomba) também pode auxiliar na regulação da produção de leite. Importante o manejo adequado relativo à pega e posicionamento do bebê para se evitar fissuras e traumas mamilares.
• Quimioterapia: pode causar efeitos histopatológicos irreversíveis e mudanças que afetam a produção do leite materno. Um estudo de coorte internacional relatou que dentre as mulheres com câncer tratado durante a gravidez, aquelas que receberam quimioterapia relataram uma taxa significativamente menor de sucesso na amamentação (34% vs. 91%).
• Mulheres que iniciaram a quimioterapia no início da gestação relataram significativamente mais dificuldades, sugerindo efeito negativo em potencial na lactogênese I nessa população.
• Terapia Endócrina: após a realização de outros tipos de terapias e, dependendo do tipo de tumor, em alguns casos há a prescrição de terapia endócrina para pacientes com câncer de mama. Inibidores da aromatase (AIs) são contra-indicados na lactação, pelo risco de transferência para o leite materno (supressão na formação de estrogênio no bebê).
• Não existem dados sobre a transferência de tamoxifeno para o leite materno. O tamoxifeno é conhecido por inibir a lactogênese II, mas seus efeitos na produção estabelecida de leite são desconhecidas. A Sociedade Europeia de Especialistas em Câncer de Mama recomenda que a terapia com tamoxifeno seja interrrompida durante a gravidez e / ou amamentação. Mais dados são necessários a esse respeito.
Fonte: Johnson HM, Mitchel KB. Breastfeeding and breast cancer: managing Lactation in survivors and women with a new diagnosis. Am Surg Oncol, 2019.